A função básica de todo apresentador de tevê é dar cara ao programa. No entanto, o conteúdo do projeto não precisa ter, necessariamente, a fisionomia de seu condutor. Atualmente, com as emissoras nacionais investindo alto na compra de programas criados por produtoras internacionais, como as europeias Endemol e Fremantle, alguns apresentadores lutam para garantir certa influência em assuntos abordados, enquanto outros se limitam a ser o rosto à frente das câmeras.
Danilo Gentili não abre mão de ter voz ativa na produção do recém-lançado Agora é Tarde. Mesclando humor ácido e entrevistas, o projeto foi formatado pela Band em parceria com a produtora argentina Cuatro Cabezas. O processo foi acompanhado de perto pelo repórter do CQC. "É a realização de um sonho. Trouxe amigos para trabalhar comigo e tenho a chance de ter os convidados que eu sempre quis. E o melhor é que posso falar de qualquer coisa. A direção e o horário permitem", ressalta o comediante.
Ao contrário de Danilo, Adriane Galisteu sabe muito bem como é não ter voz na televisão. No período em que ficou no SBT, de 2004 a 2008, ela sofreu com as pesadas intervenções de Silvio Santos no programa Charme. Atualmente no "casting" da Band, a loura se prepara para conduzir o Projeto Fashion, versão brasileira do reality show Project Runway, que mostra uma disputa entre novos estilistas. O programa foi importado dos Estados Unidos e passa longe da linha mais autoral à qual a apresentadora estava acostumada. Mesmo limitada ao formato, ela garante que terá mais liberdade artística do que na antiga emissora. "Tenho a língua solta! E no 'Projeto Fashion' , apesar de seguir as regras do programa, não terei um roteiro tão fechado. Adoro moda e vou poder dar meus palpites na escolha dos participantes e dos jurados", garante Galisteu.
À frente do Ídolos, outro produto importado da tevê americana, Rodrigo Faro emplacou aos poucos suas ideias. Como também conseguiu no Melhor do Brasil, programa que apresenta aos sábados, na Record. "A liberdade que tenho no 'Ídolos' é para improvisar, mas sigo o rigor do formato. Já aos sábados, desde que assumi o 'Melhor do Brasil' , em 2008, fiquei atento a tudo. Tanto que hoje sinto que ele reflete um pouco do meu humor e das minhas vontades", analisa.
Em quatro anos, Rodrigo já conquistou um público cativo, que o mantém sempre na vice-liderança do Ibope. Tanto que, na disputa pela audiência aos sábados, a Globo escalou três de seus apresentadores mais conhecidos. Entram em sequência, Angélica no Estrelas, Xuxa com o TV Xuxa, e Luciano Huck comandando oCaldeirão do Huck. "Apresentadores mais antigos e estabelecidos, geralmente conseguem mais autonomia. Participo dos detalhes. Até me desfiz de alguns negócios para focar no programa", admite Luciano.
No caso de Xuxa, que recentemente completou 25 anos de Globo, a influência que a apresentadora exerce em seus programas varia de acordo com o projeto. Ela considera o infantil Xuxa no Mundo da Imaginação, exibido entre 2002 e 2004, o projeto mais autoral de sua carreira. Já sem a onipresença da diretora Marlene Mattos, Xuxa participava da pré-produção e estava sempre negociando suas ideias para o programa. Já o atual TV Xuxafunciona mais como uma encomenda da direção da Globo. "Gosto muito de falar para o público infantil. Mas a emissora sempre quis que eu fizesse um programa voltado para toda a família. Adoro apresentar o 'TV Xuxa', pois consigo ficar próximo do público que me assiste desde criança", valoriza a apresentadora.
Com autonomia
Mesmo na guerra cotidiana pela audiência, a Globo ainda tem programas que evidenciam o tom alternativo e a independência de seus apresentadores. Com o horário da madrugada como aliado, o Altas Horas de Serginho Groisman está na emissora há 11 anos. Desde que trocou o SBT pela Globo, ele consegue manter o mesmo público jovem do Programa Livre, e a mesma expressão - "Fala garoto!" - para se comunicar com a plateia. Além disso, o apresentador avalia todas as pautas e atrações musicais que vão ao ar. "Tenho liberdade para convidar quem quiser. E falar francamente sobre a liberação das drogas, ditadura, sexo. Tento manter um caráter jornalístico na abordagem", valoriza Serginho.
Já o Esquenta!, de Regina Casé, consegue unir liberdade artística com a repercussão da exibição nas tardes de domingo. Aposta da Globo no último verão, o programa carnavalesco conseguiu bons índices de audiência e um especial em ritmo de festa junina, exibido em junho passado. No palco do programa, Regina reúne referências elitizadas e populares, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a cantora de funk, Valesca Popozuda. "Todos os meus projetos na tevê são desenvolvidos por mim e pelo meu marido, o diretor Estevão Ciavatta. A emissora respeita e acredita nas nossas ideias. O 'Esquenta' é uma festa sem aviso prévio, que deu certo e volta em dezembro", avisa Regina.
Instantâneas
# Um dos quadros de maior êxito do Melhor do Brasil é o Dança Gatinho, onde, semanalmente, o apresentador Rodrigo Faro se transforma em alguma personalidade da música. O quadro já mostrou Rodrigo vestido de Michael Jackson, Shakira, Rita Lee, entre outros.
# Tanto nas gravações, como nas reuniões de pauta de Amor e Sexo, Fernanda Lima é uma das mais empolgadas com o assunto. "Sou a favor da discussão em grupo. Levo para o programa minhas dúvidas e sugestões sem medo de ser julgada", orgulha-se.
# Apresentadora do Som Brasil, Patrícia Pillar não se envolve na produção do programa, mas costuma indicar algumas bandas para a direção.
# Além do Agora é Tarde, a Band mantem em sua grade atual, outros programas feitos em parceria com a produtora Cuatro Cabezas, como o CQC, A Liga, Polícia 24h, entre outros.
